segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Solidão

All the lonely people, where do they all belong? Paul McCartney

Solidão não é somente estar
sozinho:

É se sentir sozinho em meio a uma
multidão.

É perder-se em um labirinto
sem paredes.

É gritar e ser traído pelo
eco do abismo.

Sentir-se só é o mais desumano dos
sentimentos humanos.

É pertencer-se por completo e ao mesmo tempo não ser
dono de si.

É discutir-se consigo
mesmo sem ao menos uma possibilidade de resposta.

É a esperança finda do vazio.

A esperança permaneceu na caixa.

Sozinha,

a espera de uma resposta que jamais
chegou.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Bela flor

Bem te vi bela flor.
Nos olhos de mel o brilho resiste
apesar da ausência, que a saudade insiste.
O sorriso se escondeu quando o amor se foi.

Bem te vi cantarolando baixo
com os cabelos claros a enrolar.
Disposta à esperança ocultar
fechando as portas e o coração.

Alça voos e beija a flor
bela que desabrocha no deserto.
Um novo amor pode estar perto.
Deixa a felicidade entrar.

Gestão em choque

O choque ordenado, ordenhado.
Choque de ordem.
Choque de realidade.
Tropa de choque.
Tropa da elite.

Ordena-se gestão de qualidade,
responsabilidade fiscal,
responsabilidade gerencial.
(econômicos eufemismos)
Responsabilidade de classe.

Grupos armados com cacetetes
ou estatísticas (fantasiadas ou não).
Guardam mansões, praças e ruas.
Guardam palácios administrativos.
Anuncia-se a vitória em horário nobre.

Os primeiros vêm com armas.
Invade-se, ocupa-se, impõe-se.
Outros vêm com Hewlett-Packard.
Confundem, convencem.
Gestão de ordem.

domingo, 27 de novembro de 2011

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Haikai #4

Alguns se sentem queridos mesmo sozinhos
enquanto outros se sentem sozinhos
mesmo em meio a uma multidão.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Conto de Fadas

E foram felizes para sempre.
E logo veio a segunda-feira, e com ela
vieram as palavras guardadas e não ditas.
Vieram as rugas, os quilos.

O que era adorável se tornou
insuportável.

Não vieram mais flores, nem
carinhos, nem tampouco
mensagens românticas.

Veio o marasmo, a rotina, o tédio.

Ela não era mais princesa
e tampouco ele um príncipe encantado.

E o fogo diminuía,
até que a chama, pequena e escondida
no coração se extinguisse. 

E o que era para sempre,
se tornou nunca mais.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Reminiscências

Fresta da janela,
luz que invade o escuro
e rasga o vazio.
Véu de noiva do sol.

Riso de criança na
manhã de natal.
O primeiro choro do
bebê aos ouvidos da mãe
de primeira viagem.

Terra molhada no jardim,
cheiro de infância.
Canções que nos fazem
lembrar de alguém.

Coisas simples que revelam
o amor.
Que revelam você.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Lembra-se?

Lembra-se dos sonhos e dos
planos que faziamos de mãos
dadas sob a luz da lua?

Lembra-se dos momentos em
que tudo parecia perfeito
e acreditavamos no futuro?

Lembra-se?

Agora levanta-te, dê-me
a mão. Vamos construir o
nosso porvir.

A felicidade não espera os
que vivem de lembranças...

Não me resignarei!

Não me resignarei!
seja meu grito
cotidiano.

Não me acomodarei
com a injustiça do
mundo nem com a
cobiça dos homens.

Prefiro me indignar,
me revoltar!

E quando a luta não
for possível, que eu
possa falar, gritar
a plenos pulmões:

Não me resignarei!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Por que se fecham os olhos?

Se fecham os olhos quando não se
quer ver a maldade.
Se fecham antes do impacto, antes
da dor, antes da morte.

Fecham-se tanto para matar a saudade
quanto para se lembrar de um tempo
bom que não volta mais.

Se fecham os olhos, porque quando
nossos lábios se tocam, nada mais
importa.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Entre os muros

Já nos mandaram o FastFood.
Nos mandaram a calça jeans.
Enviaram também seu cinema
fantasioso e explosivo.

Não nos deixaram sem a Coca
e muito menos a coca.

Já temos nosso próprio avião
nuclear, submarino nuclear
(só se perdeu a família nuclear).

E agora temos nossa própria
Columbine.





Dedicado a todos os professores e alunos que vivem cotidianamente uma guerra invisivel entre os muros da escola e em especial aos pais, familiares, professores
e alunos do Realengo, Rio de Janeiro.

sábado, 26 de março de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

Delenga Pasárgada est

Vim-me embora de Pasárgada.
Declarei-me inimigo do rei.
Já tenho a mulher que amo
na cama que conquistei.

Vim-me embora de Pasárgada
pois lá eu não era feliz.
Quero conceber a vontade,
com a mulher que eu sempre quis.

Não preciso dos favores,
de um rei tirano e mandão
Com o meu trabalho honesto,
eu mesmo produzo meu pão.

Trouxe comigo minha amada.
Hoje já não sou mais triste,
Sou feliz por completo.
Pasárgada não mais existe.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Estrela Guia

Pequena ursa, guia dos viajantes
e dos poetas apaixonados, que
aponta a direção e mostra os
caminhos, vaga no céu do norte.

Preciosa pérola da noite, estrela
de Belém, portadora da paz e das
boas novas. Ainda que oculta pelas
nuvens, é eterna como diamante.

Astro cosmo, teu correspondente
na terra em forma de mulher, não lhe
deve em nada na beleza e formosura.

Estrela polar, são para teus olhos amendoados
de quem até mesmo a lua sente inveja,
que os amantes fazem versos.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Perda

Os olhos que olharam,
não viram.
Os ouvidos que escutaram,
não ouviram.
A pela que tocava,
não sentiu.
Num seco e áspero
instante. Fulgás momento.
A felicidade se perdeu
e jamais se achou
novamente.

terça-feira, 8 de março de 2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

Bendito erro

Sentimento estranho o amor quebrantado.
Saudade sem estar longe.
Querer compartilhar sem confidente.
Orgulho despedaçado.

Eterna pergunta de qual foi o
erro, o que se perdeu. Onde,
quando?

Odiar por continuar bem
querendo.

Maldição desejosa o amor.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O que importa?

Não me interesso pelos mistérios
do mundo ou pela dança cósmica
das estrelas.
Muito menos pelos "quem somos"?,
se somos pó e ao pó voltaremos.
Danem-se as galáxias, próximas
ou longínquas.
Que mil sóis explodam em supernovas!
Que gigantes gasosos colidam!
De que me interessa que átomos se
dividam em partículas e as partículas
se subdividam em mais partículas,
quando tudo o que realmente importa
é saber:

Como foi o seu dia?

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Folha vazia e cheia

De prosa e verso se faz a história
como em um sonho louco de um louco Deus

Que não sabe o que faz, só sabe que escreve,
e luta.

Luta contra palavras que insistem em fazer
sentido quando o que menos há é sentido.

Quando o surreal passa a fazer parte do
real e o irreal é a própria vida.

E o poeta se encontra sozinho, como
um rei sem súdito, teatro sem platéia.

Perdido em dores, lagrimar, sofrimentos
e palavras.

Labirinto Grego

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Porque desisti de escrever poesias sobre amor

Queria escrever um poema
com métrica e rimas.
Rimas internas e externas
ABBA, AABB.
Redondilhas menores e
redondilhas maiores.

Com estrofes, versos,
estribilho e contraversos.
Talvez um poema épico
ou mesmo uma canção.
Quem sabe um soneto
com seus quartetos e tercetos.

Queria compor uma poesia
de amor, dessas que
a gente lê em placas
de caminhão. Essas bonitas
que fazem os olhos
lacrimejarem e o sorriso brilhar.

Desisti porque enquanto
fazia a escansão, não
vi a paixão ir embora.
Um grande amor, súbito
e arrebatador não
cabe em um verso alexandrino.

Lágrima de um tupi (à Nísia)

No patropi plutocrata
à moda tupiniquim
entre a miséria e a desgraça
a alegria tem seu fim.

Onde tudo é permitido
seja o crime ou carnaval,
opressor e oprimido
na Paulista ou na Central.

A mãe pátria é violada
desde as naves de Cabral.
E as índias nuas choram
sem consolo paternal.

Semeia lágrima tal
a brava tribo do norte,
grito calado afinal
sem canto, somente morte.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Retorno

Minha terra já teve palmeiras
onde cantavam sabiás.
Hoje existem no máximo umas pombinhas
que vivem nas praças a ciscar. Tal qual
hienas famintas se digladiando pelo milho
jogado por velhos que não têm nada melhor
para fazer. E ainda por cima, quando voam,
ficam cagando
na cabeça daqueles que sonham em
voltar para a terra do exílio.

Poesia-Consumo (ou Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e pickles em um pão com gergelim)

Tenha vontade, compre, não importa
se não precisa.

Compre, compre.

É belo, é novo, é moda.
Use e abuse, mas, depois jogue fora.
Carro do ano, utilitários,
a maior novidade de todos
os tempos da última semana.

Compre, compre.

Embalagem descartável,
produto descartável,
amizade descartável,
Vida descartável.

Poesia descartável para ser consumida na
fila do cinema (ante-sala da pizza).
Culinária descartável, enlatado
americano para ser consumido à espera
do sexo mercantilizado. Sexo descartável
consumido à espera do amor. Amor mercantil.
Amor para ser consumido à espera da vida.

Vida comprada e vendida em drive thrus.

Basta! Olhai os lírios do campo.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

46664 (ou O soneto da liberdade)

Ainda que se prenda o
rouxinol num frio cárcere
sozinho, sem a beleza
do vôo, existe esperança.

Nem sol, mandala dos livres
que galga os céus triunfante
da cela é possível ver.
(O pássaro sente inveja).

Tu quiseste a liberdade
dos seus, ensinando-os a
planar. Viraste cativo.

Invicto, conseguiu vencer,
pois, podem prender seu corpo,
mas não calarão seu canto.

Tropeços

Poesia Pau-Brasil

O que o Oswald queria
Era que a nossa poesia
Fosse tipo exportação
Feito o café, feito o grão.

Mas acontece que hoje em dia
Como todas as coisas da vida
Tem como base o cifrão,

Até a nossa poesia
Sofreu desvalorização.

Por que sonhas, Minas

Para iniciar as públicações no blog (e de alguma forma, prestar honras), segue um texto brilhante de Roberto "Hilda Furacão" Drummond, que hoje, toma café com os deuses.

Por que sonhas, Minas?
Roberto Drummond

Minas Gerais: há sempre uma procissão passando, um sino tocando nas igrejas e nos corações, e uma conspiração em curso.

Ah, Minas Gerais: de onde vem essa rua permanente, clandestina, diária, camuflada, subversiva inconfidência?

Vem dos cristãos novos, que se asilaram em tuas cidades e aportuguesaram os nomes suspeitos?

Vem dos negros que fizeram de ti a África-mãe?

E essa tua mania, Minas Gerais, de ser altaneira, de não ficar de joelhos a não ser diante de Deus e dos teus santos de fé, e, ao mesmo tempo, ficar olhando para o chão, para os lados, de nunca encarar o teu interlocutor ou inquisidor, de onde vem teu jeito simulado, Minas Gerais?

Por que sempre parece que tens medo, Minas Gerais?

Por que tua coragem, de dar um boi para não entrar numa briga e uma boiada para não sair, vem sempre travestida, disfarçada?

Por que, Minas Gerais?

Amo em ti, Minas Gerais, não apenas essa rebelião que carregas no peito como um vulcão clandestino, amo em ti o culto dos sonhos impossíveis.

A liberdade era a amante mais desejada, mais sonhada de Tiradentes, era seu sonho impossível - e, por ele, Tiradentes morreu.

Teu filho Santos Dumont deu asas ao impossível sonho humano de voar.

E antes de Santos Dumont, o que foi o Aleijadinho, senão um mágico que transformava em realidade impossível sonhos em pedra-sabão?

Minas Gerais: Juscelino plantou uma flor de concreto, a que deu nome de Brasília, no cerrado. Era também a realização do impossível. E teu filho e rei, Pelé, nascido em Três Corações, escolhia os mais tortuosos e difíceis caminhos para o gol, e sempre perseguiu o gol impossível, o único que não conseguiu realizar: o de surpreender o goleiro com um chute de longa distância.

Minas Gerais: amo em ti a contradição.

És barroca em Ouro Preto, tiradentes, Diamantina, Congonhas e Mariana, e moderna na Pampulha.

Aqui, tu acendes o fogo, incendeias os corações: ali tu és, minas Gerais, a água na fervura, a água apagando o fogo.

Tu és sertão e cidade, és o passado e o presente, és o Rio Doce e rios amargos, trágicos, és um casarão com 38 janelas e és uma casa moderna e ensolarada.

Por que sonhas, Minas Gerais?

E por que, Minas Gerais, quando sorris, quando estás alegre, sempre acabas punindo tua própria alegria, como se ela, como tus sonhos de liberdade, te fosse proibida?

Por que sempre estás pensando que comete um grave pecado, Minas Gerais?

Por que teus filhos rezam mesmo quando são ateus?

Por que, Minas Gerais, por quê?