sábado, 27 de dezembro de 2014

O terrível dom

Eu tenho um terrível dom,
talvez único no mundo.
Eu tenho o dom de estragar
todas as coisas.

Nunca disse eu te amo,
preferia me calar.
Nunca me sacrifiquei por você,
nem troquei meus programas
para ficar contigo.

Nunca cuidei de você quando
ficou doente. Também nunca sorri com você porque conquistaste alguma coisa.
Nunca te dei
presentes sem motivo ou
ocasião.
Nunca te escrevi
poemas, fiz desenhos ou canções
de amor.

Nunca fiz nada disso, por que
tenho o dom de estragar todas as coisas.

Não te devo satisfação das coisas que faço. Não te devo desculpas, pois nunca me importei em te magoar. Nunca te agradeci por nada que me fizeste, nunca lutei por você, nunca me entreguei por você. E se não me amas mais, é exatamente por isso: eu tenho o dom de estragar todas as coisas.

Nunca rezei com você, nunca chorei com você,
nunca sofri com você, nunca cresci com você,
se teus melhores dias são os que não me vê é unicamente pelo fato de que eu tenho o dom de estragar todas as coisas.

Estrago teu sonho,
estrago teu sorriso,
estrago tua alegria.

Não o faço por que quero, mas porque tenho o dom de estragar todas as coisas.

 Simplesmente assim:

o terrível dom de estragar todas as coisas.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Simpatia

Para conseguir atrair felicidade,
não é preciso muita criatividade.
Basta uma dose de simplicidade
e um pouquinho de vontade.

Não é necessário muito dinheiro,
nem conquistar o mundo inteiro.
Não importa se é mineiro,
ou do Rio de Janeiro.

Durante a virada do ano,
pegue nove sementes de romã,
mergulhadas a noite inteira
em um suco de maçã.

Três se jogam para trás
pensando no que mais desejar,
em homenagem ao rei mago,
o africano Baltazar.

Três se põem na carteira
dentro de um saco vermelho.
As três últimas se engole,
como diz o bom conselho.

O segredo da felicidade
não é a cor da calcinha,
nem se é pescoço de peru
ou se é coxa de galinha.

Para conseguir atrair felicidade,
basta um pouquinho de bondade,
ter alguém com quem se dance,
e que nunca falte um bom romã-se!






sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Olhar da janela

No pavilhão feminino,
ela me olha pela janela.
O céu está nublado,
o sol não mostrou seu rosto.
Ela continua me olhando pela janela.

O vazio é o que preenche.
Paradoxos? Nos interstícios
disputam espaço o medo e
esperança (ó dura palavra e nobre sentimento)    

Ela disse que tudo ia ficar bem.
Mas de longe, ao vê-la me olhar
pela janela, não percebo seu
sorriso cativante e o brilho
em seus olhos.

Ela acena. (Será a redenção?)
Ela exita. (Busco sinais)

Ela continua a me olhar pela
janela.

Sinto seu medo nessa cena
distante. Dúvidas, receios,
incertezas.

É primavera em tão distante
recôndito de minha terra. Deixo
minha flor na janela, pois agora ela
deve criar raízes.

Devo regar. (Nem muito para não encharcar, nem pouco para não
sufocar).

Fui embora.
Mas ela continuou a olhar pela
janela.